Álbum póstumo de Sabotage honra e renova rap compromissado do artista


Assassinado em 24 de janeiro de 2003, cerca de três meses antes de completar 30 anos, o rapper paulistano Mauro Mateus dos Santos (1973 – 2003), o Sabotage, virou lenda no universo do hip hop brasileiro pelo precoce fim trágico, pelo talento para rimar e pela própria história de vida. Traficante que saiu da vida do crime para se dedicar ao exercício do rap e da vida de ator (fez filmes como O invasor), Sabotage deixou um único cultuado álbum de estúdio, Rap é compromisso (2000). Lançado esta semana, o álbum póstumo Sabotage vem somar na discografia do artista, honrando o rap compromissado do cantor e compositor.

As vozes das músicas foram gravadas entre 2001 e 2003. Estavam em poder de Daniel Ganjaman, produtor musical que se juntou a Rica Amabis e Tejo Damasceno (colegas do coletivo Instituto do qual fez parte o próprio Ganjaman) para finalizar e dar forma contemporânea às gravações com adesões de vasto elenco de convidados.

Faixa introduzida com a notícia da morte de Sabotage, País da fome: homens animais, tema feito com intervenção do DJ Cia, é espécie de testamento do rapper. Rap que incorpora a cadência do samba em batida hipnotizante, Maloca é maré exemplifica o êxito deste projeto fonográfico que renova o som de Sabotage sem amenizar a contundência de discurso que versa sob a ótica de quem nasceu, viveu e morreu na periferia. Duani, Instituto e Rappin' Hood integram o time de convidados da faixa.

Tema envolvente que abre o disco com o toque do duo Tropkillaz, Mosquito é outro ótimo exemplo do acerto da produção feita a partir das vozes de Sabotage. Berço de Sabotage, Canão é tema de Canão foi tão bom, faixa de coro arrepiante finalizada com Negra Li, Instituto e o próprio Ganjaman, que formatou faixas como Respeito é lei e Sai da frente com os colegas do Instituto. Já Quem viver verá – última das onze músicas gravadas por Sabotage – tem voz e versos de Dexter, rapper paulistano da mesma geração de Sabotage. O discurso versa sobre a vida na favela, alcança tom defensivo e exalta o próprio rap no refrão ("Quem viver verá / Rap é o som / Pode chegar / Favela é bom lugar").

Introduzida por inusitado violão de clima bossa-novista, O gatilho dispara intervenções de nomes como BNegão e Céu ao longo de quatro minutos e 49 segundos, evidenciando a riqueza da produção. Enfim, lançado 16 anos após Rap é compromisso, o álbum Sabotage soa naturalmente menos impactante do que o disco de 2000. Mas reaviva a voz de Sabotage, artista que saiu de cena no auge, adquirindo aura mítica por conta da morte precoce justamente quando decidira trilhar o caminho do bem.

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